Coluna Luiz Henrique Dias

 Escrita e tensão

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As obras morrem no instante em que a tensão sublima.

E é assim: nós, autores, temos algo pessoal com nossos escritos, nossos filhos. Sempre os entregamos ao mundo como bem paridos, mas nos esquecemos do quanto é importante tensionar, afim de sustentar, a obra.

Tensionar, neste caso, pode ser entendido como dar elementos – através do uso de técnicas de escrita – para que o leitor/espectador possa ser alvejado pelo texto.

(Lembro que o leitor de teatro é espectador. As peças não são escritas para serem lidas, mas encenadas)

O problema mora quando o autor, dramaturgo, opta por aprofundar a capacidade elástica do texto com técnicas velhas, ultrapassadas, reincidentes.

É preciso se criar novos modos de operar a tensão do texto.

Por exemplo, na obra de Natacha Pastore, Precipício, que tenho o prazer de estar encenando aqui em São Paulo, num determinado instante da cena, a personagem expressa:

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Vejam, o uso da palavra gelados em outra formatação dá ao texto – lido – a necessidade de uma variação que, expressa uma forma outra.

Além disso, a peça citada – Precipício – apresenta elementos de tensão que operam o tempo através de oscilações verbais belíssimas.

O erro, ao meu ver, nos autores, ocorre quando, ao invés de utilizar técnicas novas, abertas, simples porém singelas, preferem utilizar frases “de efeito”, ensinamentos “morais” e “educacionais” ou “temas”, etc. Há muitos grupos que fazem isso. E o público, a cada dia, foge desses trabalhos.

O novo teatro, o teatro novo, é aquele que se inventa a partir de uma massa morta histórica. Essa massa, ainda revirada pelos cultuadores do passado, como toda massa morta, apodrece, fede e precisa ser decomposta rapidamente para dar lugar a outra massa, viva, radiante, artisticamente potente e teatralmente fundante. E ela nasce das obras, das escrituras contemporâneas do teatro.

Pense nisso. Construa e tensione, ainda mais, o real.

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* Luiz Henrique Dias é encenador da Cia Experiencial o Teatro do Excluído de São Paulo e Membro do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná.

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