Coluna Luiz Henrique Dias: O caminhar de uma estética

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* Luiz Henrique Dias

O meu maior professor de dramaturgia, Roberto Alvim, sempre diz: “toda questão estética é uma questão existencial.”.

Esta frase se reverbera nas pequenas paredes dos pequenos teatros por onde Roberto passa e leva, com ela, uma bomba de criação devastadora.

A ouvi – a frase –, pela primeira vez, em 2010 e logo levei a boa nova para Foz do Iguaçu, onde eu morava na época. Reuni um grupo de pessoas – das mais diversas áreas de estudo – fotografia, publicidade, psicologia – e refundei meu trabalho como diretor de teatro. Coloquei uma pá de cal sobre nossos antigos trabalhos, abortei as produções em andamento, escolhi um novo elenco e coloquei na mesa um texto, Guizos, escrito por mim alguns meses depois, e a proposta de executar a obra para apenas doze espectadores, numa sala de pouco menos de vinte metros quadrados, com pouca ou quase nenhuma luz, através de um trabalho de ator estático.

Essa era a minha questão existencial. Meu Sinthoma.

Muito bem exposto pelo ator Gabriel Pasini.

Dali surgiu uma estética para meu grupo que, a partir desse momento, passava a se chamar Cia Experiencial.

Guizos estreou em Foz do Iguaçu e, em pouco mais de quatro meses em cartaz, fez mais de cinquenta apresentações na cidade. Foi a primeira peça de Foz a manter uma temporada tão densa e  periodicidade nas apresentações. Tivemos reconhecimento do público, da crítica, de professores universitários e profissionais de saúde mental, além do respaldo da imprensa, local e estadual.

Além disso, recebemos dois grandes nomes do teatro contemporâneo brasileiro em nossa pequena sala: Roberto Alvim e Luiz Leprevost.

E não nos acomodamos.

Poucos meses depois da estréia de Guizos, tínhamos em cartaz a bela obra de Paulo Zwolinski, como se eu fosse o mundo, que contou com fomento de Itaipu Binacional e, apesar do sucesso do trabalho anterior, não nos deixou levar pela vaidade: mantemos a estética e o pequeno público.

A peça marcou a estréia, nos palcos da cidade, de Gabriela Keller e Guilherme Cardim e deram à Foz do Iguaçu uma outra oportunidade de atores e métodos de atuação. Algo que há muito não acontecia.

Findado um ciclo, o de concepção da Cia Experiencial, fechamos o teatro e rumamos para São Paulo, onde, depois de um ano de estudos, vamos estreiar em duas semanas Precipício, de Natacha Pastore. O trabalho marca a volta de Rafael Giorgetti à Cia e a entrada de duas talentosas atrizes: Bárbara Serafim e Simone Carletto. Apesar da variação geográfica, matemos a mesma estética e o mesmo formato: pouca luz, contrastes sonoros, simplicidade cênica, estaticidade interpretativa e, principalmente, poucos espectadores. Isso não significa uma repetição, até porque a obra encenada neste instante é profundamente diferentes das outras duas. Em breve a levaremos para Foz do Iguaçu, a cidade natal da Cia Experiencial.

Nossa missão é manter a estética e, assim, nossa questão de existência.

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* Luiz Henrique Dias é encenador da Cia Experiencial o Teatro do Excluído de São Paulo e Membro do Núcleo de Dramaturgia SESI Paraná.

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